10/12/2012

então como faz?

Bom, então você quer começar a traduzir livros para uma editora.

Tem um bom domínio do português, um bom domínio de outra(s) língua(s), gosta de ler, tem facilidade para escrever, dispõe de uma bagagenzinha de cultura geral, tem formação específica em alguma área do conhecimento, talvez disponha de alguma experiência de tradução como diletante, tem boa capacidade de concentração, um espírito meio detalhista e bastante disposição.

Decerto você vai mandar e-mail para várias editoras, oferecendo seus préstimos, seu enorme talento, sua plena disposição, toda a sua inteligência e sua nenhuma ou parca experiência. Está certo, é isso mesmo o que tem de fazer. Vai adiantar? Provavelmente ou quase certamente não. Dou dez ou vinte pra um que nem vão te responder.

Mas por quê? você brada em exasperação e se põe a caraminholar:
  • É porque os céus se uniram contra você? 
  • Porque é uma panelinha fechada onde só se entra com padrinho ou pistolão? 
  • Porque você é ótimo e são os outros que não percebem? 

Respostas:
  • Não, não se preocupe, os céus não se deram ao trabalho de se unir para contrariar você. 
  • Se é uma panelinha tão fechada, deixa esses esnobes pra lá, oras!
  • Então pior pra eles, não é mesmo?

Não tenho respostas prontas nem sequer um quadro muito claro na cabeça. Até me comprometo a consultar algumas editoras e perguntar o que fazem com os e-mails, como costumam recrutar novos colaboradores etc., para ter elementos mais concretos, e aí venho contar.

Por ora, o que eu sei, meio desconexo e variável, é o seguinte:
  • Muitas editoras têm um quadro relativamente fixo de colaboradores constantes e um bom tanto de colaboradores mais esporádicos - então apenas muito raramente vão precisar de novos colaboradores
  • Por outro lado, várias editoras tiveram um grande aumento em sua produção editorial. Estas são as que precisam ou andaram precisando em data recente de novos colaboradores. Como não existe um mercado propriamente dito, um mercado sedimentado, não havia e não sei se já há métodos de recrutamento minimamente consolidados. Aí é o tipo de caso de sair correndo atrás de colaborador, ficar anunciando na Catho ou nos e-groups - imaginem a situação em que essas editoras se colocam! Com a enxurradinha de interessados e sem uma estrutura funcional de seleção, vira um melê
  • Há as que contratam meio à balda, sei lá bem por quais critérios (provavelmente apenas por CV), descobrem que a tradução ficou horrível, pensam que é assim mesmo e que tradução em geral sempre vai ser ruim, jogam o preço da lauda lá embaixo e continuam com coisas horríveis, tentando salvar na preparação ou até se arriscando a publicar aquelas coisas medonhas assim mesmo
  • Ou também podem ficar pulando de tradutor em tradutor, para ver se se acertam com algum, e não conseguem formar um quadro estável. Algumas desistem de tanto atropelo e contratam agências - agências! - para fazer esse trabalho de recrutamento, seleção, contratação, que então entregam a tradução já preparada e pronta para rodar. As editoras apenas transferem seus problemas, digamos assim. Basta ver o episódio recente da Editora Leya e uma agência de tradução, na publicação do terceiro ou quinto volume de uma dessas sagas populares - sobrou pra todo mundo.

Eu poderia contar mil casos. Mas o que quero dizer é que editoras bem estruturadas costumam estar com seus quadros completos. Editoras em expansão recrutam novos colaboradores, mas nem sempre sabem como fazer. De qualquer forma, não é algo contínuo, é meio por surtos e saltos. Há também editoras passando por períodos bastante difíceis, com o acirramento da concorrência nos últimos anos, estão cortando custos e diminuindo seu ritmo de publicação.

Se você se interessa em acompanhar as notícias do mundo editorial, minha sugestão é assinar o Publishnews, aqui, e aí não preciso ficar falando tanta coisa desconjuntada. 

Depois continuo em outro post o que eu tentaria fazer se tivesse de começar.