20/02/2013

o outro lado III: custos

Você olha o preço de capa de um livro e acha que as editoras ganham os tubos. Grandes grupos ganham, claro, mas mais no volume do que necessariamente no preço.

Isso é de conhecimento geral, mas só para ficar registrado aqui neste blogue. Um cálculo dos custos e da composição do preço, bastante simples, mas razoavelmente preciso e que é utilizado em muitas editoras, é o seguinte (foi-me fornecido por uma editora muito séria, de porte médio, há cerca de quarenta anos na praça):
Os custos de um livro são os seguintes: gráfica e papel: 50%; editoração (capa, paginação e arquivo): 20%; tradução: 30%. O livro é vendido ou consignado à livraria por X, a preço de capa de 2X, ou seja, 50% fica para a livraria.
No caso de obra em domínio público, não se paga direito autoral, mas, caso o original não esteja em domínio público, deve ser incluído um percentual de 20% para compor o preço final. Na realidade, em termos de custos, é 10%, mas, como o livro é vendido com 50% de desconto para os livreiros, os 10% do preço final correspondem a 20% da metade.
Naturalmente, neste esboço falta a margem de lucro da editora, sem falar do preço de aquisição dos direitos de publicação a 10%, pois sabemos que em muitos casos o valor pago à editora original chega a ser astronômico. Em todo caso, é uma média que se aplica a grande parte dos casos.

Note-se que, no esquema acima, o custo de tradução está lançado a 30%, mas sei que algumas das editoras com as quais trabalho lançam a 25%. E certamente há variações de editora para editora, de edição para edição e assim por diante. O que quero dizer é que, de uma maneira ou outra, com maiores ou menores discrepâncias, o item mais oneroso no editorial é a tradução.

Acho importante desmistificar uma ideia que às vezes vejo por aí, de que as editoras são entidades benemerentes que deveriam atender aos caprichos de tradutores meio despistados ou que todas elas são empresas entregues à pura ganância e ao mais selvagem capitalismo. Não creio que seja uma visão sequer aproximada do que conheço do mundo editorial. Editoras não são vilãs, em sua maioria. Vilãs são as fraudadoras, claro; as que roubam traduções alheias, as que não colocam créditos de tradução, as que obrigam os tradutores a assinar contratos abrindo mão do direito ao nome, as que jogam o preço da lauda lá embaixo e coisas do gênero.