03/01/2013

chefes

Quem veio acompanhando minhas memórias revisórias deve ter notado que sempre menciono meus antigos chefes e como sou grata a eles.

Talvez hoje em dia nem todos os revisores e preparadores trabalhem diretamente sob um chefe, como uma figura ao vivo, aquela pessoa de carne e osso a teu lado, ensinando, orientando e fazendo junto as tarefas. Por incrível que pareça e contra a infinidade de charges e caricaturas, chefes costumam ser muito legais: até porque, imagino eu, são os primeiros interessados em treinar bem os novatos, em manter uma equipe eficiente, em poder contar com um serviço bem feito.

Hoje em dia, também, ouço muito falarem em oficinas e workshops. Vejo muito, por exemplo, "oficina de tradução": um evento de dois ou três dias, em que um tradutor mais experiente discorre sobre sua experiência e dá exemplos práticos aos participantes. Ou uma cadeira na faculdade em que, durante algumas horas duas ou três vezes por semana, o professor dá textos para os alunos praticarem tradução ou manda fazerem em casa e depois analisa, avalia, comenta em sala de aula (imagino eu).

Outro dia fiquei pensando como o papel de um mestre numa oficina-oficina é semelhante ao de um chefe num departamento editorial de décadas atrás. Hoje é bem diferente, pois a maior parte do processo editorial (preparação, revisão, diagramação etc.) é feita fora, em agências, por freelancers, em casa, com arquivos digitais e assim por diante. Aí não sei bem como se dá a formação prática e o desenvolvimento da capacitação profissional da pessoa.

E fiquei pensando também na "escola de tradutores" do Rónai e como ele deplorava a impossibilidade prática de se ter uma oficina efetiva, com um mestre que ensinasse o ofício de tradução a seus aprendizes. De fato, se em meados do século passado já era difícil, quem dirá no século XXI - é outra realidade. De todo modo, adorei ter chefes.